Centrais prometem ocupar as ruas até terem suas pautas atendidas; Marcha da Classe Trabalhadora está programada para 26/2
Mais de cinco mil trabalhadores e trabalhadoras lotaram a Avenida
Paulista, em São Paulo, na manhã desta quarta-feira (28), para o Dia
Nacional de Lutas contra a perda de direitos e em defesa do emprego,
organizado pela CUT, CSB, CTB, Força Sindical, NCST e UGT.
No ato unificado da capital paulista, as centrais sindicais cobraram do
governo federal a revogação das Medidas Provisórias (MPs) 664 e 665,
que mudaram as regras de acesso a direitos como o seguro-desemprego,
abono salarial (PIS-Pasep), auxílio-doença e o seguro-defeso. Também
questionaram os rumos da política econômica adotados pelo Ministério da
Fazenda, que, segundo os sindicalistas, levarão o país à recessão.
O secretário geral da CUT Nacional,
Sergio Nobre, avalia que a presidenta Dilma Rousseff tenha tomado as
medidas sem total consciência da gravidade e do impacto nos direitos
sociais e no emprego que elas trariam. Para ele, as mudanças anunciadas
no início do ano contrariam o pronunciamento feito nessa última
terça-feira (27), quando a presidenta afirmou que consolidará e ampliará
o projeto vitorioso nas urnas.
“A agenda vitoriosa nas eleições é oposta às medidas atuais. Aquela
visa melhorar e ampliar os direitos sociais, aumentar a renda, a
produção e o mercado interno. O aumento da taxa de juros, a restrição do
financiamento de bens e o achatamento das políticas sociais empurram o
país para a recessão”, destaca o secretário. “Essa agenda vem sendo
testada na Europa desde 2008, e, se funcionasse, a crise de lá já havia
terminado há tempos”.
Nobre pontua que o caminho a ser seguido é apostar, além do mercado
interno, no investimento em obras de infraestrutura, habitação e
mobilidade urbana. “É isso que vai nos blindar da crise e fazer o país
crescer. Mas, para isso, as medidas têm que ser contrárias às
anunciadas. Temos que ampliar o crédito, melhorar a renda e proteger os
direitos sociais”, completa o dirigente.
As centrais garantiram que não sairão das ruas e realizarão
nacionalmente a Marcha da Classe Trabalhadora, no próximo dia 26 de
fevereiro, quando entregarão uma pauta de reivindicações ao Executivo
federal, aos governos estaduais e ao empresariado. Entre elas, o fim do
fator previdenciário; redução da jornada para 40 horas semanais; fim do
Projeto de Lei nº 4330/04, que amplia as terceirizações; correção da
tabela do Imposto de Renda; mais investimentos em saúde, educação e
segurança.
“A presidenta conhece bem a CUT e sabe da nossa luta e compromisso. Se a
Dilma não voltar atrás nas Medidas Provisórias, certamente ela estará
propondo um conflito que nós não queremos. Portanto, não vamos sair das
ruas”, garante o presidente da CUT São Paulo, Adi dos Santos Lima, que
defende a volta do círculo virtuoso da economia, no qual o emprego gera
renda e, assim, há produção e desenvolvimento com qualidade de vida. .
Alta rotatividade
O secretário nacional de Administração e Finanças da Central, Quintino
Severo, falou sobre o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que, segundo o
CUTista, desconhece a realidade da classe trabalhadora.
“Ele [Joaquim Levy] precisa andar mais com os pés no chão, não só de
avião e helicóptero, para parar de falar bobagens como a de que o
seguro-desemprego está ultrapassado. Ultrapassado está o conhecimento
desse cidadão sobre a realidade brasileira”, critica, destacando que o
maior problema do Brasil é a alta rotatividade, que leva à dispensa de
quase 40% dos trabalhadores (as) anualmente.
Para o diretor executivo da CUT nacional, Júlio Turra, a questão da
alta rotatividade também é o essencial a ser combatido. “Queremos
diálogo sobre essas medidas. As centrais estão abertas a corrigir
qualquer distorção ou fraude que possa existir. Mas onde está a fraude
em pagar seguro-desemprego em um país que é campeão mundial em
rotatividade?”, destacou.
“Essas medidas tem que ser retiradas. Se quer fazer alterações, que
dialogue com as centrais sindicais. Nós temos propostas, como combater a
rotatividade e garantir emprego”.
Para o dirigente, há formas melhores de equilibrar as finanças
públicas. “Bota imposto em quem compra iate, em quem anda de
helicóptero. Taxe as grandes fortunas. Mas não venha mexer com o salário
e o emprego do trabalhador. Quer cortar? Corta dos ricos”.
A Secretária de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos
Trabalhadores no Comércio e Serviços (Contracs), Lucilene Binsfeld, a
Tudi, lembra que as medidas aprovadas atingem diretamente o setor
de comércio e serviços. “O setor de serviços é de alta rotatividade e
muitos terceirizados. Nós somos contrários a mexer no período de acesso
ao seguro desemprego, há outras alternativas.”. Em entrevista ao Portal
da CUT, o secretário Quintino Severo destacou o fortalecimento do SINE
como uma delas (linkar).
Crise da água, crise no emprego
A grave crise no abastecimento de água que assola o estado de São Paulo
é outra preocupação dos sindicalistas pontuada na mobilização. Com os
riscos à produção em vários setores, como o de alimentos e bebidas,
agricultura e metalurgia, os dirigentes temem os impactos no emprego e
também cobrarão medidas de Geraldo Alckmin, já que até o momento o
governador paulista não anunciou qualquer proposta.
Sebastião Geraldo Cardozo, secretário geral da CUT São Paulo, ressalta
que as conseqüências da falta de água ao emprego e à economia são tão
preocupantes quanto às MPs anunciadas pelo governo federal. “Ao afetar a
produção geral do estado paulista, faltará distribuição de produtos e
haverá desemprego. Nessa crise da água, a ausência de postura do Alckmin
e do PSDB em relação aos trabalhadores vai afetar o sistema produtivo
como um todo e é isso que temos que combater”.
Para a secretária nacional da Mulher Trabalhadora da CUT, Rosane Silva,
a população tem que ocupar as ruas e dizer ao governador que não aceita
pagar a conta pela falta de investimentos em obras e serviços para o
abastecimento. “As indústrias vão começar a parar porque não haverá
água e nas periferias o racionamento é uma realidade. A água é pública e
um bem comum, por isso não aceitamos essa privatização da água”,
pontua.
Petrobrás e Caixa Econômica são patrimônios do país
A Petrobrás é responsável por 13% do PIB e 20% dos investimentos no
Brasil, segundo Cibele Vieira, coordenadora geral do Sindipetro
Unificado-SP, filiado à CUT, à FUP e porta-voz da Central sobre o
assunto. Para ela, é preciso fortalecer a estatal e não deixar que
funcionários envolvidos em escândalo sejam confundidos com a totalidade
dos trabalhadores ou com a empresa.
Só nos metalúrgicos da indústria naval foram criados 80 mil empregos,
segundo Cibele, porque a Petrobrás começou a fazer plataformas e navios
no Brasil. O bloqueio das empresas brasileiras citadas na Operação Lava a
Jato fará com que a Petrobras tenha que contratar empresas de fora,
gerando desemprego. “Só no estaleiro no Rio de Janeiro, está previsto
queda de 50 mil empregos. Dos 80 mil que conseguimos com a reerguida da
indústria naval, 50 mil estão em risco. Bloquear as empresas é colocar a
conta nos trabalhadores. Tem que punir e fazer mudanças estruturais,
com certeza, mas tem que preservar a empresa e garantir emprego do
petroleiro próprio e do petroleiro terceirizado”.
Caixa Econômica Federal 100% pública
Na mobilização desta quarta, os bancários também fizeram um abraço
solidário em frente ao prédio da Caixa Econômica Federal (CEF) na Av.
Paulista, defendendo que o banco continue sendo 100% público, diante dos
boatos de que o governo federal abrirá o capital da instituição
financeira. Segundo a dirigente bancária Adriana Magalhães, secretária
de Comunicação da CUT/SP, os bancos públicos foram fundamentais para
enfrentar a crise internacional de 2008 e 20010, pois concederam crédito
mais barato que os bancos privados. “Não é com a abertura de capital da
Caixa que o Brasil vai retornar ao caminho do desenvolvimento econômico
e social”, conclui.